A gente carrega nesta vida uma série de pequenos e grandes traumas infantis. Todos nós. Deixando graves problemas de lado, simples frustrações na infância também são responsáveis por pessoas neuróticas e estranhas que vemos por aí. Mas a maioria dos traumas fica ali guardada no inconsciente ao longo dos anos e a gente até esquece. Às vezes, eles retornam em meio a flashes ou objetos que ressuscitam memórias do passado.
Pode ser aquela brincadeira do elástico que a galera fazia embaixo do bloco e você nunca conseguia atravessar a uma determinada altura. Ou aquela palavra que você nunca conseguia falar direito e a professora mandava você repetir um monte de vezes na frente de toda a classe durante a aula. Pode ser aquela comida que todo mundo gosta, menos você que foi obrigado a comê-la quando pequeno...
Pode ser aquele brinquedo que você sempre quis e nunca teve. Pois bem, esse é um dos meus. Outro dia, navegando pela internet, vi uma foto do Super Mario Bros. Bastou para ressuscitá-lo. Pouco antes do meu aniversário de 24 anos, resolvi “consertar” o trauma.
Quando eu era pequena, todo mundo tinha o Super Nintendo (tá, alguns tinham o Mega Drive, Master System, algo assim). Todos os amiguinhos tinham um video game e o Super Nintendo era simplesmente a sensação. Eu ia pra casa das coleguinhas e ficava encantada. Jogar Super Mario era tão legal. O Yoshi é tão lindo. Sabia que dá para levá-lo à casinha para comer maçãs na árvore?? Aquilo era o máximo.
Claro que eu pedia insistentemente um Super Nintendo de presente à minha mãe. Todos os aniversários, Dias das Crianças e Natais durante pelo menos CINCO longos anos da minha vida. Ela – minha mãe –, talvez com um pouco de razão, achava que video game atrofiava o cerébro. Meu desejo nunca foi atendido. Cheguei a achar que Papai Noel não gostava de mim. Foi quando descobri que aquela história de ser uma boa menina era puro papo furado – outro trauma, aliás, mas aí já é outro post.
Então eu saciava a vontade incessante de jogar na casa das amiguinhas. Elas eram craques. Pressionando o botão "Y", corriam pelas fases sem se preocupar com os obstáculos – tartarugas voadoras, lagartas de chapéu, rinocerontes cuspidores de fogo, esqueletos de dinossauro atiradores de ossos, peixes sonâmbulos, fantasmas perseguidores, flores pulantes e afins, enfim.
A regra era jogar até morrer. Eu, claro, morria rapidamente. Elas desbravavam as maiores aventuras. E nem me fale do start-select. Chegar aos chefões, para mim, era muito emocionante e complicado. Para elas, muito simples e até entediante. Eu não sabia encontrar as passagens secretas. Elas nem precisavam passar de fase: iam direto aos esconderijos. Mas as tardes passavam logo e nunca dava tempo de chegar aos castelos mais avançados de forma que eu nunca zerava o Super Mario.
Voltando às vésperas do meu natalício, pesquisei os preços de um Super Nintendo usado (claro, não se fabrica mais) na internet. Encontrei um lindo – edição de colecionador, na cor vermelha. Na mosca. Encomendei com os controles e alguns cartuchos, incluindo, obviamente, o Super Mario. Teoricamente, demoraria cinco dias para chegar, depois de confirmado o depósito na conta do vendedor – assim, correndo o risco de levar o calote mesmo. Mas, no meu caso, chegou em três dias, exatamente no meu aniversário, numa linda manhã de sábado. Nem hesitei, instalei e me joguei, ou melhor, joguei bastante.
Mas foi nesse feriado da Semana Santa que eu me tornei uma pessoa plena. Depois de virar a noite jogando, calejar os dedos e enrijecer as juntas dos braços, eu zerei o Super Mario – 15 anos depois da moda. Os últimos castelos foram suados. O último chefão, um trabalho de parto. Duas horas ininterruptas de fracassadas tentativas. Salvar a princesa foi Mastercard. Sem preço. O coração disparou, senti calafrios – classificaria até como um orgasmo.
Vida que segue.
...
Pode ser aquela brincadeira do elástico que a galera fazia embaixo do bloco e você nunca conseguia atravessar a uma determinada altura. Ou aquela palavra que você nunca conseguia falar direito e a professora mandava você repetir um monte de vezes na frente de toda a classe durante a aula. Pode ser aquela comida que todo mundo gosta, menos você que foi obrigado a comê-la quando pequeno...
Pode ser aquele brinquedo que você sempre quis e nunca teve. Pois bem, esse é um dos meus. Outro dia, navegando pela internet, vi uma foto do Super Mario Bros. Bastou para ressuscitá-lo. Pouco antes do meu aniversário de 24 anos, resolvi “consertar” o trauma.
Quando eu era pequena, todo mundo tinha o Super Nintendo (tá, alguns tinham o Mega Drive, Master System, algo assim). Todos os amiguinhos tinham um video game e o Super Nintendo era simplesmente a sensação. Eu ia pra casa das coleguinhas e ficava encantada. Jogar Super Mario era tão legal. O Yoshi é tão lindo. Sabia que dá para levá-lo à casinha para comer maçãs na árvore?? Aquilo era o máximo.
Claro que eu pedia insistentemente um Super Nintendo de presente à minha mãe. Todos os aniversários, Dias das Crianças e Natais durante pelo menos CINCO longos anos da minha vida. Ela – minha mãe –, talvez com um pouco de razão, achava que video game atrofiava o cerébro. Meu desejo nunca foi atendido. Cheguei a achar que Papai Noel não gostava de mim. Foi quando descobri que aquela história de ser uma boa menina era puro papo furado – outro trauma, aliás, mas aí já é outro post.
Então eu saciava a vontade incessante de jogar na casa das amiguinhas. Elas eram craques. Pressionando o botão "Y", corriam pelas fases sem se preocupar com os obstáculos – tartarugas voadoras, lagartas de chapéu, rinocerontes cuspidores de fogo, esqueletos de dinossauro atiradores de ossos, peixes sonâmbulos, fantasmas perseguidores, flores pulantes e afins, enfim.
A regra era jogar até morrer. Eu, claro, morria rapidamente. Elas desbravavam as maiores aventuras. E nem me fale do start-select. Chegar aos chefões, para mim, era muito emocionante e complicado. Para elas, muito simples e até entediante. Eu não sabia encontrar as passagens secretas. Elas nem precisavam passar de fase: iam direto aos esconderijos. Mas as tardes passavam logo e nunca dava tempo de chegar aos castelos mais avançados de forma que eu nunca zerava o Super Mario.
Voltando às vésperas do meu natalício, pesquisei os preços de um Super Nintendo usado (claro, não se fabrica mais) na internet. Encontrei um lindo – edição de colecionador, na cor vermelha. Na mosca. Encomendei com os controles e alguns cartuchos, incluindo, obviamente, o Super Mario. Teoricamente, demoraria cinco dias para chegar, depois de confirmado o depósito na conta do vendedor – assim, correndo o risco de levar o calote mesmo. Mas, no meu caso, chegou em três dias, exatamente no meu aniversário, numa linda manhã de sábado. Nem hesitei, instalei e me joguei, ou melhor, joguei bastante.
Mas foi nesse feriado da Semana Santa que eu me tornei uma pessoa plena. Depois de virar a noite jogando, calejar os dedos e enrijecer as juntas dos braços, eu zerei o Super Mario – 15 anos depois da moda. Os últimos castelos foram suados. O último chefão, um trabalho de parto. Duas horas ininterruptas de fracassadas tentativas. Salvar a princesa foi Mastercard. Sem preço. O coração disparou, senti calafrios – classificaria até como um orgasmo.
Vida que segue.
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